domingo, 9 de setembro de 2012

Justiça de Florianópolis proíbe santinho de "candidato da maconha" por parecer papel de seda

DivulgaçãoA campanha para vereador de Florianópolis do candidato Lucas de Oliveira (PSDB) estava morna, com visibilidade moderada. Ele fazia pequenas passeatas distribuindo propaganda com sua foto, sua legenda e seu número 45.999 num papel tão fino quanto o de seda utilizado por consumidores de maconha para enrolar o cigarro. Em destaque no santinho estava o apelido: Presidente THC.
Na terça-feira (6), uma ação proposta pelo Ministério Público Eleitoral pedindo a proibição da propaganda deu um empurrão extra na campanha de Oliveira. Na quinta-feira (6), o juiz Luiz Felipe Schuch, da 13ª Zona Eleitoral de Florianópolis, aceitou o pedido da promotoria e concedeu liminar (decisão provisória) contra o Oliveira, também conhecido nas ruas como "candidato da maconha". Aí a campanha decolou de vez e se tornou uma das mais comentadas da capital catarinense.
 
A ação começou com a apreensão pela Polícia Militar da propaganda numa escola. A origem da repressão e a posterior proibição só fizeram redobrar o esforço dos cabos eleitorais do candidato, na maioria adolescentes de escolas públicas.
O promotor eleitoral Sidney Dalabrida viu ilegalidades na propaganda e no uso de adolescentes. No requerimento à Justiça pedindo, afirmou que "o MP deve proteger o eleitor de qualquer artifício capaz de induzi-lo à prática de atos ilícitos, principalmente em face de pessoas ainda sem maturidade intelectual suficiente para compreender os diversos efeitos sobre o organismo que decorrem naturalmente do uso de substâncias entorpecentes".
Na prática, ele pediu o fim da campanha porque ela representaria apologia ao consumo de drogas. Oliveira aproveitou o episódio para desafiar o promotor: sua equipe levou às ruas dois bonecos amordaçados e com mãos algemadas. O candidato se diz vítima de uma perseguição baseada apenas em "argumentos morais".
E o uso de adolescentes na campanha? "Se os jovens podem tirar carteira do trabalho e título de eleitor, por que não poderiam fazer campanha ?”, questiona Oliveira. Ele mesmo responde: "É absolutamente constitucional."
Na quinta-feira, após o juiz conceder liminar proibindo a propaganda, um oficial de Justiça foi ao apartamento do candidato recolher o material. Oliveira e os advogados do PSDB entregaram a defesa no cartório da 13 ª Zona Eleitoral na tarde de ontem (8).
"Passei a noite trabalhando na minha defesa, com os advogados do partido", disse Oliveira. "Minha resposta será simples: na campanha estou exercendo a liberdade de expressão, sou a favor da mudança da lei, pela legalização das drogas. Posso dizer isto onde quiser".
FHC o convidou para entrar no PSDB
Oliveira tem 31 e está com a matrícula trancada no curso de Administração da UFSC (Universidade Federal da Santa Catarina). Ele só tem uma plataforma relevante: é a favor da legalização e do consumo livre da maconha.
Ele se apresenta sempre de terno e com uma faixa presidencial, incorporando o personagem "Presidente THC". Esta assinatura é uma referência ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o convidou para se filiar recentemente ao PSDB, jogando com as iniciais dele para formar o princípio ativo da maconha, o THC (tetraidrocanabinol).
O candidato realiza passeatas com grupos de estudantes gritando num megafone apenas a palavra "maconha". Para as dezenas de jovens que se aproximam sua equipe distribui a propaganda no papel fininho. "Eu não distribuo [papel] de seda, como dizem. Imprimi 30 mil panfletos num papel de gramatura fina. Botei ali meu CNPJ como candidato e o da gráfica, é uma propaganda perfeitamente legal", defende-se Oliveira, com um sorriso.
O candidato diz que não consome maconha, mas tem uma extensa folha de serviços à causa. É o organizador da Marcha da Maconha em Florianópolis e preside o já folclórico InCa, Instituto Cannabis, fundado por ele, para defender a legalização da droga.
Oliveira diz que estuda o tema e defende o uso medicinal da maconha --ele está em remissão de um câncer. Operado aos 23 anos, sofreu metástase no estômago e coluna cervical, passando por pesadas sessões de radioterapia.
Oliveira já tinha sido candidato a vereador nas últimas eleições pelo PDT. Conseguiu apenas 150 votos. A ida para o PSDB aconteceu no congresso da juventude do partido, realizado em Goiânia no ano passado. Lá, foi convidado por Fernando Henrique Cardoso a defender sua plataforma de drogas dentro do PSDB. O convite feito e aceito.
Hoje, aos que o criticam, responde com um "então prendam FHC", referindo-se ao posicionamento do ex-presidente favorável à descriminalização de drogas leves. "A descriminalização virá cedo ou tarde, a juventude é rebelde e vai quebrar este tabu", afirma Oliveira.
Do UOL, em Florianópolis

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